O problema do Brasil é o brasileiro
- Rogério Mazzetto Franco
- 1 de jul.
- 2 min de leitura
Atualizado: 20 de jul.
Não: os políticos não são a causa — são o sintoma de uma sociedade moralmente doente
Durante anos, repetimos o mantra confortável de que “o povo é o reflexo dos políticos”, como se a corrupção, os maus exemplos, o atraso e a impunidade tivessem brotado espontaneamente nos palácios de Brasília, influenciando todo o povo. Mas talvez seja mais sincero — e certamente mais doloroso — admitir o oposto: os políticos são o espelho do povo. Eles não caíram do céu, nem vieram de Marte. Eles emergiram das urnas — e das nossas casas.
A corrupção generalizada que assola o país não começou nos gabinetes, mas nas calçadas, nos caixas de supermercado, nas enfermarias e nos balcões da Receita. No atestado médico falso, no "me dá um desconto aí sem nota", no "só essa vez" que vira sempre. O Congresso Nacional não é um acidente. É uma consequência.
Um país onde ser honesto é ser otário
O brasileiro médio aprendeu a admirar o malandro e desprezar o íntegro. O “jeitinho” virou virtude nacional, e seguir regras passou a ser coisa de trouxa. Sonegar é esperteza. Subornar é habilidade. Fingir que trabalha é um direito adquirido.
Não dá para esperar políticos virtuosos de um povo que aplaude quem trapaceia e zomba de quem cumpre a lei. O eleitor que troca seu voto por uma cesta básica, um churrasco de campanha ou a promessa de um favorzinho não pode se fingir de indignado quando seu candidato eleito for preso por corrupção.
Cúmplices, não vítimas
Essa é a parte que dói: o brasileiro não é vítima do sistema — é cúmplice dele. Critica a corrupção na televisão, mas comemora quando um conhecido “dá um migué” no INSS. Fala em ética na política, mas paga propina ao guarda para escapar da multa. Quer justiça… desde que não seja contra ele.
Revoltamo-nos com a impunidade dos poderosos, mas sorrimos quando o parente “resolveu tudo com um conhecido lá dentro”. Denunciamos o mensalão, mas compramos um cabo pirata na esquina. Há um abismo entre o discurso e a prática. E é nesse abismo que a nossa democracia apodrece.
O brasileiro perdeu a vergonha
Hoje vivemos num país onde tudo é negociável: a lei, a moral, a verdade. Trocamos uma verdade incontestável por uma mentira politicamente correta não por convicção, mas por medo de linchamento virtual. O que impera é o relativismo absoluto — e uma sociedade que relativiza tudo acaba não defendendo nada.
No dia a dia, o vale-tudo virou regra. Estacionar em vaga de idoso? Normal. Furar o sinal? “Rapidinho, ninguém viu.” Copiar trabalho da internet? Estratégia. Roubar no troco? Esperteza. As pequenas corrupções foram naturalizadas — e abriram caminho para as grandes.
A mudança não virá de cima
Insistimos em esperar salvadores da pátria. Um herói que surgirá do nada para limpar a sujeira. Mas não há como construir uma República séria em cima de uma base podre. Não existe Congresso limpo com povo sujo. Não se elege estadistas em uma cultura que idolatra pilantras.
A verdadeira mudança começa quando o brasileiro comum parar de rir do “jeitinho”, de perdoar o amigo desonesto, de tratar trapaça como malandragem simpática. Quando a integridade voltar a ser motivo de orgulho — e não de escárnio.
Até lá, seguiremos tendo exatamente os políticos que merecemos.




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